Voltar 28 de Setembro de 2021
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Na economia criativa, um motor de inclusão produtiva

Em 2020, um grupo de 21 cidades do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo, motivou o primeiro plano regional de economia criativa do Brasil. Iniciativa do Sebrae SP, em parceria com o Codivar – Consórcio Intermunicipal do Vale do Ribeira – e com realização da Garimpo de Soluções, o plano foi desenvolvido com metodologia inédita e gerou 25 ações práticas, muitas das quais já estão em curso. O caso mostra a prática de como pequenas cidades e territórios podem fazer da economia criativa seu motor de inclusão produtiva.

Este plano foi o tema do painel “Do plano à prática – como fazer da economia criativa a realidade das nossas cidades”, apresentado no primeiro dia do seminário Cidades que Se Reinventam. Mediado por Wilber Rossini, ex-superintendente do Codivar e líder do Programa Articuladores FGV/Sebrae, o painel contou com a participação de Alejandro Castañé, diretor de Pesquisa, Inteligência e Inovação da Garimpo de Soluções e coordenador do primeiro plano regional de economia criativa do país, para o Vale do Ribeira; Wilson Poit, diretor superintendente do Sebrae SP; e Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Nacional.

Para o mediador Wilber Rossini, passar do plano à prática funciona quando há relacionamento. “Precisamos – diz – escutar as pessoas. Quanto maior a escuta, maior a delimitação do território e a autoestima das pessoas. Nossa entrega para a população implica em relacionamento.”

Dá gosto ser do Ribeira

Desenvolvido entre dezembro de 2019 e agosto de 2020, o “Dá Gosto Ser do Ribeira” foi o primeiro plano de economia criativa regional do Brasil, entremeando os 22 municípios que compõem o Vale do Ribeira, a região mais pobre do estado de São Paulo, com cerca de 340 mil habitantes. O plano executou 25 ações nos setores de turismo, alimentação e artesanato. Tudo a partir do que falaram os entrevistados. “Trabalhamos com a visão de respeitar os territórios, as singularidades. Só sabendo o que a população precisa, é que podemos colocar os planos em prática”, diz Alejandro Castañé.

O coordenador do plano detalha: “Foram realizadas, na primeira etapa do plano, quase 300 entrevistas. O trabalho envolveu três ações principais: dar voz à população e às lideranças que a conformam, para identificar em conjunto as singularidades da região; sistematizar e articular as peças que advêm desse processo, detectando as oportunidades e os gargalos nas indústrias criativas, aquelas que dependem da criatividade humana para prosperar; e propor um conjunto de ações que propiciam ao empreendedor criativo concretizar seu potencial de realização econômica, satisfação pessoal e contribuição para o desenvolvimento local”.

“Quando se fala em economia criativa – acentua Castañé –, “só se pensa no valor agregado (que parte da criatividade humana e das singularidades do território para gerar produtos ou serviços diferenciados). Mas é preciso pensar no valor compartilhado (distribuição do valor ao longo da cadeia, essencial para a geração de emprego e renda) e no valor percebido.”

As forças da transformação

“Muitas vezes a gente chega com um pacote pronto a uma região, e a população está precisando de outra coisa. Empreendedorismo e educação são as maiores forças que podem transformar a sociedade”, assegura o diretor superintendente do Sebrae SP, Wilson Poit. “Quem vai criar os empregos de que o Brasil tanto precisa – enfatiza – são os micro e pequenos negócios, pois os gigantes já estão digitalizados, automatizados. O Vale do Ribeira, com IDH de 0,7, o mais baixo do estado, precisa de apoio para revitalizar, desenvolver a economia. O projeto explora o potencial da região, a biodiversidade, é quase como uma Amazônia no estado de São Paulo, com riquezas naturais e patrimoniais e uma cultura local.”

Com o plano, segundo o executivo do Sebrae, enfatizou-se o mote “Cuidem da região e fiquem na região”. Cada empreendedor dá emprego a outros cidadãos. “A chave é inclusão produtiva, ensinar a pescar. Já aconteceram festivais gastronômicos e atendimentos a grupos de artesanato, criando roteiros turísticos. O plano é reinventar o Vale. Ouvir o que as pessoas querem, inovar ouvindo as pessoas. Foco na solução, não no problema. É para fazer aproximadamente já, e não exatamente nunca.”

Economia criativa é luz

“Precisamos incorporar a economia criativa a qualquer trabalho de desenvolvimento territorial. Sem economia criativa, qualquer trabalho fica estéril, falta algo, falta luz. Economia criativa verbaliza, explicita as características marcantes de cada localidade. Ela expressa a verdade e a riqueza de um lugar”, enaltece Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae Brasil.

“Da economia criativa – prossegue – você degusta a história, a cultura, as escolhas seculares. É a alma do desenvolvimento.” O senso de pertencimento, diz, se dá pela economia criativa. O primeiro elemento a ser trabalhado, num projeto de desenvolvimento, é a identidade da região, o que a distingue, a torna única. Sua gastronomia, o turismo, a música, a poesia… “Tudo isso emprega um número enorme de pessoas. Trabalhar a economia criativa é ter a perspectiva de trabalhar todas as pessoas, as instituições, os grupos de um determinado território, ter identidade. A partir dessa identidade, ter coesão. Economia criativa é o toque de mágica, sensibiliza e gera senso de afinidade, mais elementos em comum do que elementos de diferenciação. Somos mais iguais ou mais diferentes?”, questiona o executivo. E finaliza: “Nosso desafio é ampliar, envolver mais e mais pessoas. Ensinar a pescar e cuidar do rio”.

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