Voltar 28 de Setembro de 2021
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Cenários climáticos servem de alerta para evitar crises hídricas

Municípios devem se preparar para projeções mais restritas de oferta de água 

O Brasil ainda vive os reflexos de uma recente crise hídrica que exigiu a adoção de medidas de restrição do consumo e aumento da tarifa de energia para evitar o colapso na rede elétrica.

A cada ano, as regiões brasileiras convivem com as consequências negativas de algum tipo de impacto climático seja ocasionado pela estiagem, resultando em perdas na economia e limitação no acesso à água; ou por grandes volumes de chuvas, que provocam prejuízos na infraestrutura urbana e na vida de muitas pessoas, principalmente as mais vulneráveis.

O doutor em Geografia pela Unicamp e secretário-executivo do Observatório das Águas, Angelo Lima, levou para o evento on-line Cidades que se Reinventam o tema “ Gestão das águas – os municípios precisam (e podem) fortalecer a segurança hídrica”.

Na apresentação desta terça-feira (28/09), o especialista em Análise Ambiental e Dinâmica Territorial chamou a atenção dos gestores municipais adotarem medidas voltadas à recuperação da mata em áreas degradadas a fim de prevenir gastos financeiros futuros no tratamento da água.

Ele orientou que os municípios façam consórcios intermunicipais para ter mais capacidade financeira para resolver problemas comuns relacionados à situação do abastecimento nas cidades, pois a limitação do acesso à agua e o alto custo de tratamento são cenários atuais e constantes da realidade brasileira.

Lima ressaltou que o homem precisa compreender ainda mais a necessidade de acreditar na ciência e nas relações com a natureza para atuar de forma sistêmica em adoção de políticas públicas voltadas a minimizar os impactos ambientais.

Na palestra, ele apresentou um estudo do Fórum Econômico Mundial, o qual revela que os cinco principais riscos globais para negócios, com impacto direto na economia e sociedade, estão relacionados aos efeitos ambientais.

Ou seja, eventos climáticos externos, falha na mitigação e adaptação às mudanças climáticas por governos e empresas, danos e desastres causados pelo homem, grande perda da biodiversidade e desastres naturais graves, a exemplo de tsunamis, terremotos e erupção de vulcões serão mais frequentes e com impacto na sociedade.

O nível de danos disso vai depender do grau de ação tomada por cada país ou cidade para minimizar os efeitos ambientais sobre suas populações.

Ele citou um estudo do Observatório da Água que mostra que entre os anos 2071 a 2099, o Brasil vai viver dois cenários sobre precipitação. Um em que apresenta a redução de 15% do volume de chuvas em algumas regiões. E outro que mostra uma redução de 30% a 35% nas projeções de precipitações no Brasil.

“Isso mostra que os municípios precisam estar preparados para enfrentar uma realidade com menos água. Por isso é necessário investir em políticas públicas voltadas à segurança hídrica para garantir o abastecimento de água com qualidade e quantidade para a população”, reforçou.

Crise hídrica atinge a economia

Lima relembrou os impactos econômicos e sociais vivenciados pela crise hídrica de 2014, que atingiu principalmente a região Sudeste. A falta de chuvas fez com que a hidrovia do rio Tietê, em São Paulo, ficasse fechada por seis meses. Isso representou a perda de cinco mil empregos diretos e ainda foi necessário mobilizar 10 mil caminhões para assumir o volume de transporte que a hidrovia atendida, aumentando os gastos de logística e os níveis de poluição do ar.

O Brasil sofre com problemas constantes de secas e alagamentos.  Para o especialista, as lideranças públicas devem estar cientes da necessidade de políticas voltadas à infraestrutura para enfrentar esses desafios.

“Há municípios que não têm secretaria de meio ambiente e nem secretaria de recursos hídricos. O poder municipal não tem obrigatoriedade de fazer gestão sobre as águas, mas tem obrigação de fazer gestão sobre uso dos solos. E essa ocupação do território interfere na quantidade e qualidade da água”, salientou.

Lima reforçou que o Brasil já perdeu cerca de 40% das condições do solo para a agricultura e que estão sem possibilidade de qualquer tipo de uso. Ele alerta que a desigualdade da oferta de água no Brasil também vai exigir mais ação dos governos para compensar as limitações causadas pelos efeitos climáticos.

Desequilíbrio na oferta de água

Conforme dados apresentados na palestra, cerca de 12% a 13,7% da água no mundo está no Brasil. Porém a distribuição é desequilibrada. A região Norte tem cerca de 70% da água, para uso de apenas 6% da população. Já no Sudeste, tem 50% da população do País e apenas 6% da água em oferta.

“ O primeiro desafio é equilibrar essa distribuição e oferecer água de qualidade para a população. Temos uma política nacional de recursos hídricos e por isso a necessidade dos municípios estarem integrados em consórcios, com participação dos comitês de bacias hidrográficas para olhar os potenciais, os desafios e atuar de forma ordenada e integrada para poder focar em políticas de abastecimento, preservação e na elaboração de planos de saneamento”, sugere Lima.

Entra as medidas de adoção que podem ser trabalhadas para prevenir as perdas estão investimentos em trabalhos de estruturação da infraestrutura voltada para a água.

O palestrante citou dois estudos realizados por organizações não governamentais. Um para a região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, que sugeriu a restauração florestal de 2,5 mil hectares de pastagens, que vai resultar, em 20 anos, da R$ 92,9 milhões em custos evitados no tratamento de água, para um investimento de R$ 34 milhões.

Outro exemplo sugerido foi realizado para o sistema Gandu, no Rio de Janeiro. Segundo o estudo, se for feita uma recuperação ambiental de três mil hectares de pastagem em área de alto grau de erosão, é possível reduzir em 33% o escoamento de sedimentos para o curso da água, assim é possível fazer uma economia de quatro milhões de toneladas de produtos químicos e de 260 mil MWh de energia para tratar a turbidez da água. Os benefícios econômicos resultaram em R$ 259 milhões de economia durante 30 anos. “São ações que representam menos investimento e mais economia. Cuidar da restauração florestal reduz os gastos com tratamento de água”, salienta.

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