Turismo é pilar para o desenvolvimento urbano
Setor busca a retomada com olhar atento à inovação e entender as demandas dos viajantes
A palestra de abertura da programação do evento online Cidades que se Reinventam destacou a temática do turismo como um elemento propulsor para o desenvolvimento urbano. Mas para isso é necessário superar desafios.
A chefe de Inteligência de Mercado e Competitividade da Organização Mundial do Turismo (OMT), Sandra Carvão, e o fundador e editor-chefe do maior site de viagens do Brasil, Ricardo Freire foram os especialistas que analisaram o tema “O Ressurgimento do turismo – das tendências à vista ao turista no divã”. A mediação da palestra teve a participação da presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio de São Paulo, Mariana Aldrigui.
Um dos desafios atuais do setor do turismo é enfrentar e superar os efeitos provocados pela pandemia no setor. Em termos de movimento econômico, houve uma perda de 1,1 trilhão de dólares no período. Neste ano, a Organização Mundial do Turismo (OMT) registra, somente nos cinco primeiros meses, uma redução de 85% no movimento de turistas em comparação a 2019.
A chefe de Inteligência de Mercado e Competitividade da Organização Mundial do Turismo (OMT), Sandra Carvão, participou do evento a partir de Madri, capital espanhola e sede da OMT.
Especialista na área, ela abordou os efeitos da Covid-19 no mercado, com a redução de 73% do movimento de turistas em 2020, o que representa uma demanda de procura que era vivenciado há 30 anos. “Isso é um impacto massivo para o setor, nunca visto, que implica uma adaptação muito significativa”, comentou Sandra.
Segundo cenários da OMT, as previsões de recuperação do mercado indicam entre dois anos e meio a quatro anos para atingir os níveis de movimento registrados antes da pandemia, em 2019. A expectativa da retomada se dará a partir de 2024 ou mais tarde.
Isso dentro de uma realidade otimista, com o controle sanitário.
Turismo na agenda de desenvolvimento urbano
A especialista da OMT ressaltou a necessidade do turismo estar integrado na agenda de desenvolvimento urbano. Sandra Carvão reforçou a importância de discutir o turismo de forma mais direta na gestão das cidades, porque é um setor que coloca em debate temas como acessibilidade, tecnologia, desenvolvimento econômico e social, sustentabilidade ambiental, governança, mobilidade, infraestrutura e serviços.
Sandra ressalta a importância das cidades contarem com sistemas de medição sobre como os cidadãos e visitantes pensam sobre turismo para o desenvolvimento local.
“A pandemia apresentou oportunidades às cidades viverem novas experiências, avaliar seus moradores como consumidores de produtos turísticos locais, retomar o uso dos espaços abertos. É necessário valorizar o turismo doméstico”, destaca.
Na sua visão, os protocolos de segurança sanitária vieram para ficar e ela sugere que sejam criadas novas parcerias para o desenvolvimento turístico voltados para esse residente temporário, que é o turista, mas com enfoque de ação para o desenvolvimento da cidade.
Brasil deve facilitar a vida dos turistas
Viajante há 20 anos pelos principais roteiros turísticos do Brasil, o editor do siteViajenaViagem.com, Ricardo Freire pensa com a cabeça de turista nos seus trabalhos de orientação ao visitante. E esse olhar possibilita o surgimento de ideias que possam ser adotadas pelas cidades para melhorarem seus serviços de atendimento aos viajantes.
“Acho ainda que as secretarias de turismo dos estados e municípios defendem os interesses do trade turístico. Fazendo obras e buscando recursos para melhorias. Tudo é justo e bom, porque tem que criar facilidade e vantagens para trazer negócios para a sua região e atrair mais turistas. Mas o oposto também tem sua razão. Se forem criadas vantagens e facilidades para os turistas, eles também vão trazer mais negócios para a sua região. E não tem ninguém defendendo os interesses dos turistas, que as vezes é contraditório aos interesses do trade turístico”, avaliou.
Freire comentou sobre a situação da dificuldade de transporte aos turistas. Ele citou exemplos de cidades como Rio de Janeiro, que tem um belo ponto de atração no Boulevard Olímpico, criado nas Olimpíadas do Rio em 2016, mas que tem dificuldade de facilitar o acesso de circulação nos pontos de visitas pelo Veículo Leve sobre Trilho (VLT). Uma das razões avaliadas por Freire é a dificuldade de encontrar os pontos de venda do cartão para uso neste transporte.
Ele também citou outras referências que dificultam a logística do visitante para os locais de visitação, como em Maragogi, em Alagoas, onde o turista gasta muito para o transporte privativo, que é quase o preço de uma passagem aérea, por falta de serviço local de transporte convencional voltado ao turista.
Isso, segundo ele afasta o visitante e faz com que ele deixe de ficar mais tempo no local por causa dos gastos excessivos no deslocamento.
Freire citou exemplos positivos de integração de transporte para facilitar o deslocamento, como em Gramado, no Rio Grande do Sul, que tem diversas opções baratas e de fácil acesso para quem chega em Porto Alegre e que ir visitar a cidade serrana. E também Curitiba, que conta com um eficiente serviço de city tour, feito por um ônibus de dois andares que leva para os principais pontos de visita da cidade.
Na sua visão de visitante, ele ressalta que o serviço turístico tem que pensar nos viajantes solitários e independentes, que chegam sozinhos na cidade.
Freire diz que a venda online é um ganho para todo o visitante, que não pode perder tempo para ficar procurando locais para comprar passagens de transporte.
“Tem que facilitar o acesso do turista aos pontos atrativos. Oferecer essas ofertas de passeios e todos os serviços pela internet ajuda o visitante a se programar e a não ter surpresas quando chegar. Desta forma ele aproveita mais a cidade, perde menos tempo e vai vir mais vezes. Assim todos saem ganhando”, sugeriu.
A mediadora da palestra, Mariana Aldrigui, ressaltou a necessidade dos poderes públicos ficarem atentos aos exemplos de inovações do turismo no mundo para enfrentar a retomada do setor durante e pós-pandemia, principalmente em inovações e integrações.
Ela também ressaltou a importância dos gestores ouvirem as informações repassadas pelos visitantes. “Nos ensinam a melhorar”, disse a presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio (SP).