O ambiente nos molda

Design urbano e saúde mental se interligam a todo momento, interferindo na qualidade de vida dos cidadãos. “Quanto melhor a cidade, mas saudáveis são as pessoas.” Quem garante é o médico Fabiano Moulin, especialista em neurologia cognitiva e do comportamento, palestrante no seminário Cidades que Se Reinventam.

“Saúde – diz o dr. Moulin – não é ser feliz o tempo todo. O que se espera de um ser saudável é flexibilidade: chorar no enterro, rir no aniversário, relaxar ao assistir a um filme… Saúde é o quanto de potência, o quanto de recursos eu tenho para lidar com as demandas da vida. Saúde é potência acima das demandas. Tanto o potencial como as demandas não são somente do indivíduo, mas também da sociedade, do ambiente. Vivemos uma ilusão quando pensamos que a saúde é exclusiva do indivíduo, ou que o adoecimento é exclusivo do indivíduo. Tudo tem a ver com o que nos cerca.”

Salutogênese

Cidade é fundamental para a saúde, é a chamada “salutogênese”. O neurologista explica: “A melhor maneira de viver é também a melhor maneira de afastar as doenças como depressão, ansiedade, insônia, Alzheimer. Se a cidade é saudável, o cidadão é saudável”.

Para ser saudável, uma cidade precisa de algumas qualidades: ser verde, azul, pró-social, ativa, limpa e inclusiva.

A cidade verde é a que mantém espaços generosos de vegetação. Os benefícios são múltiplos. Para crianças, reduz transtornos como o TDAH e previne adoecimento mental futuro. Para os adultos, reduz depressão, estresse, ansiedade e melhora a cognição. Idosos têm mais estabilidade comportamental nas demências. Quanto mais verde, menor o adoecimento.

E quanto de verde uma cidade deve ter? Pelo menos 28%, segundo estudos recentes. Deve ser diverso, espalhado pela cidade. Parques de vários tamanhos ou um parque central e outros menores.

A cidade azul pressupõe a existência de água. Também aqui os benefícios são variados: reduz e previne depressão e ansiedade e ajuda na cognição.

A cidade deve ter e facilitar o usufruto de lagos, rios limpos, mar e outras fontes hídricas.

Uma cidade deve ser pró-social, oferecendo condições para que as pessoas convivam. Os pontos de conexão social podem ser praças, livrarias, igrejas, ambientes dentro dos condomínios, feiras. Espalhar bancos confortáveis pela cidade também é uma boa solução. “Infelizmente – lamenta-se Fabiano Moulin – a pandemia piorou tudo. Mas, aos poucos, respeitando-se os protocolos, a convivência vai voltar.”

Cidade ativa é aquela que favorece a atividade física, um ativo de saúde. Prevenção de ansiedade e de uso de drogas, mais autoestima, melhora na atenção e na memória, prevenção de demências… A lista de benefícios é extensa.

A cidade precisa ser limpa, o que significa atacar a poluição atmosférica, a sonora e o excesso de luminosidade. O resultado é a diminuição de doenças pulmonares, cânceres, transtornos neuropsiquiátricos, depressão e isolamento social.

Por fim, para ser saudável, a cidade deve ser inclusiva. “É preciso minimizar as dificuldades de acesso. Quanto menos desigual o sistema, melhor a qualidade de vida”, acentua o médico.

O trânsito provoca prejuízos não só à saúde física, mas também à mental e até à familiar. Fabiano Moulin compilou três dados:

– 45 minutos por dia no trânsito: aumento de 40% na taxa de divórcios

– uma hora de deslocamento: a pessoa ganha 40% do salário do que alguém que caminha para o trabalho

– Trocar o trânsito por caminhada: mesmo efeito de se apaixonar

Para alcançar esses resultados todos e transformar as cidades, todos têm um papel a desempenhar: políticos (implantar o design como estratégia da cidade), arquitetos (entender e implementar a característica), empreendedores (reconhecer a expectativa e criar), clientes (solicitar os princípios nas obras), pesquisadores (reconhecer, avaliar, disseminar), profissionais da saúde (defender o design urbano) e cidadãos (engajamento).