Paris, a capital da inovação
Atualmente, a capital da França exerce papel de liderança no campo da inovação. Mas nem sempre foi assim. Para chegar a esse patamar, um árduo esforço vem sendo feito neste século, tendo à frente a organização Paris&Co. Trata-se de uma agência de desenvolvimento econômico e de inovação de Paris e região metropolitana. Desenvolve plataformas de ação aberta, em parceria com mais de cem grandes empresas, além de incubação de mais de 300 startups, promove liderança de programas de experimentação e criação de grandes eventos.
Tudo isso foi explanado pelo diretor da Paris&Co., Loïc Dosseur, em palestra no último dia do seminário Cidades que Se Reinventam. Sua apresentação começou com história: “Em 1889, um edifício extraordinário atingiu o céu de Paris, a Torre Eiffel. A exposição universal se abriu para receber 30 milhões de visitantes de todo o planeta. Ciências, engenharia, pesquisa e inovação desfilaram durante meses, para celebrar Paris como o farol da inovação para o mundo”. Essa bela história durou alguns anos, mas Paris, de certo modo, dormiu sobre os louros. O lugar que ocupava em inovação foi lentamente assumido por grandes metrópoles anglo-saxãs e de outros países.
A retomada
Loïc Dosseur trabalha há dez anos para a Prefeitura de Paris. “Trabalho – diz ele – para despertar Paris, para fazer da inovação uma alavanca extraordinária, para que a cidade brilhe novamente e a inovação nos permita transformar a sociedade de forma sustentável.” Em 2010 Dosseur integrou a equipe de Jean-Louis Missika, adjunto da Prefeitura para inovação, pesquisa e universidades, com a missão de converter novamente Paris em líder mundial de inovação. Fazer de uma capital com pouco mais de 2 milhões de habitantes uma referência mundial. “Estávamos longe disso. Mesmo a ideia de criar uma empresa ou inovar não era muito bem percebida. Era melhor ser funcionário público sem assumir riscos. O sistema de inovação era altamente subvencionado e com barreiras de entrada. Cabia a alguma instituição, e não aos inovadores, definir o que era inovação.”
Algumas empresas estavam ensimesmadas. Dosseur continua: “P&D eram feitos por elas mesmas, por seus engenheiros e pesquisadores, sem diálogo com outros atores do mercado. O direito ao erro, elemento fundamental da inovação, não existia. Como resultado, ir além dos limites e dos hábitos não era autorizado, não dando margem a novas propostas.”
Os resultados
Em seis ou sete anos de trabalho, os resultados começaram a aparecer: primeira cidade em inovação na Europa, primeira região europeia em número de patentes, mais de 100 mil empregos criados por startups na Grande Paris. “Paris voltou a ser uma das três cidades de destaque, com Nova York e Londres. A cidade hoje é uma das grandes metrópoles generalistas e criadoras de inovação. Tivemos o prazer de receber, em 2017, o Prêmio Capital da Inovação na Europa”, detalha o diretor.
A Paris&Co. trabalha em diversos eixos: imobiliário, liberação da economia da inovação, comunicação, educação e formação. Um exemplo do avanço: em 2008 havia apenas 8 mil metros quadrados de área de incubação em Paris. Em 2020, eram 250 mil metros quadrados.
Desde 2010, explodiu o número de iniciativas. A Paris&Co. já existia, mas ressurgiu a partir desse momento, alterando seu modelo e seguindo um caminho de liberação da economia. Dosseur detalha: “Quisemos também mostrar, testar e permitir que toda a vizinhança se sentisse envolvida. Para isso, escolhemos dois grandes bairros, muito diferentes, um moderno, outro mais típico da arquitetura parisiense. Qualquer inovador, gestor de startup, executivo, funcionário público ou de uma associação pode testar sua solução ao vivo com a Paris&Co. O processo de seleção é muito exigente, para que possamos ter projetos em número aceitável e garantir que o inovador disporá de todas as informações úteis para fazer seu teste nas melhores condições. Conhecemos os fluxos sociais, o trânsito, o estado das construções desses bairros. Esses dados são fornecidos aos empreendedores, para que, com nossa ajuda, possam avaliar corretamente suas inovações”.
Essa abordagem de inovação é fundamental para a Paris&Co., já que permite e obriga a mobilizar todos os que fazem a cidade, tanto física quanto em seus serviços. “Os funcionários públicos são vitais nisso, e são autorizados a errar, a testar. A hierarquia os ensina a avaliar seu trabalho pela conduta do projeto, mais que pelos resultados.”
A comunicação é trabalhada junto à mídia e ao grande público. “Criamos o Grande Prêmio de Inovação. Mostramos muitos exemplos de pessoas que foram vencedoras, e que estão aqui, próximas de nós. A comunicação priorizou o público jovem e as moças, já que o ambiente de inovação ainda é predominantemente masculino: 70% dos fundadores de startups são homens.”
Segunda fase
“Em 2015 – pontua Dosseur – assumi a direção do Paris&Co., que progressivamente se tornou o veículo principal de condução desse programa. Era o momento de passarmos para a segunda fase, já que em 2015/16 os resultados nos permitiam pensar que Paris reencontrava um lugar importante entre as metrópoles inovadoras. Devíamos passar a outra dinâmica, sair de um foco nas startups, de uma identidade demasiadamente anglo-saxã de inovação, para que Paris e a França se concentrassem na finalidade da inovação. A busca pela inovação havia se desviado de seu objeto real, que é a resposta a necessidades e a uma transformação necessária – ecológica, social e econômica.”
E como fazer a virada? “Precisamos envolver todos, não só as startups. Queremos agir com e para os empreendedores, mas a fim da transformação sustentável da cidade.”
Em 2020, 486 startups foram incubadas. Do orçamento da Paris&Co., 70% vêm de colaborações com grandes empresas.
“Queremos – conclui o diretor da Paris&Co. – chegar aos bairros populares, diversificar os candidatos. O ponto mais importante que queremos trabalhar: a medida do impacto dessas jovens empresas, econômica, social e ambientalmente. Não basta termos 10 mil startups, elas precisam ter impacto positivo.”