5G: a revolução que não pode esperar
A tecnologia 5G vai impulsionar avanços em todos os setores da economia e na vida das pessoas. Mas, para aproveitar bem esses benefícios, as cidades precisam se preparar, adequando suas legislações e providenciando infraestrutura adequada. “Os municípios não podem se atrasar nesse percurso”, alerta Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis Brasil Digital, palestrante no segundo dia do seminário Cidades que Se Reinventam.
O setor de telecomunicações do Brasil representa 3,6% do PIB, gerando uma receita bruta de 244 bilhões de reais (2019). Gera 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos, rende 65 bilhões em tributos por ano (a tributação chega a 70%, contra 10% em outros países). Nos últimos dois anos, os investimentos no setor chegaram a 1,026 trilhão de reais, possibilitando 306 milhões de acessos (celular, banda larga, telefonia fixa, TV). A infraestrutura brasileira é a mais bem avaliada no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Desde o ano passado, as telecomunicações são consideradas um bem essencial.
Mesmo com a pandemia e com a retração econômica, as redes de 5G continuam sendo lançadas pelo mundo. Países fizeram leilões, lançaram editais e surgiram empresas para instalar o 5G. “No Brasil – informa Marcos Ferrari – deve sair o edital ainda neste ano, e as operadoras entram no leilão, iniciando os investimentos.”
O crescimento dos acessos ao 5G no mundo avança mais rápido que as tecnologias anteriores. O 3G levou nove anos para atingir 500 milhões de usuários; o 4G, seis anos; o 5G deve levar três anos. Outra comparação: no primeiro ano de implantação da tecnologia 3G, surgiram seis redes; do 4G, 17 redes; do 5G, 30 redes. Hoje há 157 redes comerciais, em 62 países. “Isso significa que tudo estará conectado, não só o celular. Haverá novas aplicações em todos os setores. No final dos anos 2000, quando foi lançado o 4G, não tínhamos noção de como seria no futuro. Mas muitas aplicações surgiram a partir do 4G, como iFood e Uber”, acentua o palestrante.
O 5G vai acontecer mais rápido, podendo ser aplicado na manufatura, no agronegócio, no comércio, na medicina, na educação, na indústria. Ferrari assegura: “Caverá Homo a adoção será mais rápida, maior será a possibilidade de termos mais produtividade. 5G vai oferecer a oportunidade de reduzir a queda contínua da produtividade nos últimos anos”.
Uma revolução
A evolução tecnológica trazida pelo 5G proporcionará uma verdadeira revolução nos próximos anos. “Do simples telefone do 2G, até realidade virtual, inteligência artificial, cidade inteligente, carro conectado, casa inteligente…”, enumera Ferrari.
A velocidade na transmissão de dados será maior, de 1 gigabit por segundo (contra 10 mega no 4G) a uma frequência de 1.000 mHz (ante 100 mHz) e com latência de 1 milissegundo (10 milissegundos no 4G).
Novas aplicações irão gerar inovações em todos os setores da economia: indústria 4.0, realidade virtual, agro conectado, entregas por drones, saúde monitorada, coleta inteligente, carros conectados, energia inteligente, inteligência artificial, prédios inteligentes.
Em banda mais larga, mais dados podem trafegar em maior velocidade.
A demanda por conectividade e mobilidade vai crescer exponencialmente, segundo o palestrante: 408% entre 2020 e 2026 na América Latina, ou 31% ao ano. Em 2020 a demanda era de 5,9 gb/mês; em 2026, será de 30 gb/mês.
Todos os dispositivos estarão conectados à rede, não só os celulares. Até eletrodomésticos farão parte da rede.
Nas cidades, a vida será transformada, com benefícios como monitoramento de tráfego, sinais sincronizados, otimização do transporte público, segurança pública, usuários emitindo alertas, estacionamentos inteligentes, telemedicina, monitoramento das redes de água e esgoto. Os ganhos serão imensos para as cidades, nos aspectos econômico, social e ambiental.
Como se preparar
Tudo isso exige uma infraestrutura robusta. Alguns países entregam mais rápido, outros mais devagar, outros têm dificuldades. “O Brasil – detalha Ferrari – tem gargalos, especialmente de infraestrutura nos municípios. Leis municipais antigas restringem a instalação de muitas antenas de celulares. Há um descasamento entre a legislação e a tecnologia. A maioria das leis é da década de 90, início dos anos 2000. A tecnologia avançou rápido, precisa mais antenas para atender a demanda.”
Com a frequência mais elevada do 5G, o alcance das antenas diminui, exigindo a instalação de mais antenas – cinco a dez vezes mais que o 4G. Mas as novas antenas são menores, e até edificações poderão servir de base, gerando menor impacto visual. Marcos Ferrari complementa: “Antena de 5G pode ser colocada em postes, fachadas de prédios etc. Mas como fazer? Reduzir o tempo entre investimento disponível e sua efetiva aplicação na expansão das redes. Ter processos de licenciamento ágeis, mais investimentos, legislação que garanta segurança aos investimentos”. As leis municipais precisam se embasar nas federais, como a Lei Geral de Antenas, de 2020. Há muitas restrições municipais, que precisarão ser revistas.
Ferrari conclui: “A implantação do 5G e da internet das coisas trará ganhos significativos e prosperidade para todos os setores da economia. Mas, para conseguir aproveitar plenamente os benefícios destas novas tecnologias, as cidades precisam adequar suas legislações, de forma a permitir agilidade na implantação da infraestrutura de telecomunicações”.